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Quando a imprensa exagera: a britânica e a francesa arrastaram seus Países para a guerra na Crimeia

  • Foto do escritor: Demetrius Silva Matos
    Demetrius Silva Matos
  • 11 de abr. de 2022
  • 13 min de leitura

Atualizado: 25 de mai. de 2022




Não se pode negar o poder da imprensa. Com poucas palavras seus jornalistas e editores podem arruinar reputações; fomentar intrigas e revoltas; expor verdades desconhecidas; transformar heróis em vilões; vilões em heróis; etc. Não é à toa que uma das primeiras medidas tomadas por pessoas ou governos com tendências autoritárias é censurar ou omitir as declarações dos repórteres e da imprensa.


Como uma espécie de “quarto poder” de toda República, a imprensa sempre teve capacidade, tanto para o bem quanto para o mal, de direcionar os rumos de toda sociedade.

Entretanto, houve um determinado momento no séc. XIX que a imprensa exagerou consideravelmente nos preconceitos de seus artigos e opiniões, tendo por resultado final, embora não único, uma das guerras mais sangrentas do séc. XIX.


Acompanhe-me nessa história quase desconhecida.


Estamos no ano de 1833, quando o então Vice-Rei do Egito, Mehmet Ali, desafiou o poder do Sultão otomano Mahmud II. Ao ter ajudado seu “senhor” no combate de rebeldes gregos anos atrás, Mehmet Ali solicitou um título hereditário para si e seu filho, Ibrahim Pasha, sobre o Egito e a Síria.


Após o Sultão ter negado, pai e filho organizaram suas tropas (as melhores de todo o Império Otomano) e marcharam em rebelião. Em pouco tempo conquistaram a Palestina, o Líbano e a Síria, sendo que seu exército estava se preparando para invadir a Anatólia (mais ou menos a Turquia moderna) e conquistar seu grande prêmio: Constantinopla, a capital do Império Otomano e o lar do Sultão.


Mahmud II, desesperado pela total incapacidade de suas tropas leais em conter Mehmet Ali, apelou a britânicos e franceses por ajuda, sendo ignorado por ambos. Sem outra alternativa, se voltou para o País que mais havia feito para diminuir o poder de seu Império no passado e que por diversas vezes tentou conquistar Constantinopla: a Rússia. O Czar Nicolau I, que à época contava com acordos generosos com o Sultão (que iam desde o controle nominal sobre as regiões da Moldávia e da Valáquia [sendo está última atualmente uma província búlgara] até garantias de que poderiam intervir nos assuntos internos otomanos, sempre que os cristãos ortodoxos que habitavam o Império fossem ameaçados, mostrou-se disposto a ajudar.


40 mil soldados russos foram despachados para defender Constantinopla contra Mehmet Ali. Esse “ato ousado” assustou tanto britânicos quanto franceses, que temiam que agora a Rússia estava a um passo de conquistar a cidade que tanto desejavam, o que lhes daria praticamente o controle sobre a entrada e saída do Mar Negro, situação está que ambas potencias europeias não poderiam permitir.


Rapidamente Londres e Paris forçaram Mehmet Ali a chegar a um acordo com o Sultão, que concedeu a Mehmet Ali a ilha de Creta e Hijaz (que corresponde atualmente ao litoral ocidental da Arábia Saudita) para o seu controle direto, além de nomear Ibrahim Pasha (filho de Mehmet Ali) governador perpetuo da Síria. Em troca, Mehmet Ali retirou suas tropas dos territórios ocupados e não obteve seu reino hereditário no Egito, ao qual ambicionava.


Terminada a crise, os russos deixaram a capital otomana, porém em virtude de sua ajuda em um momento tão crítico, o Sultão se viu forçado por força moral a assinar o Tratado de Unkiar-Skelessi com a Rússia, que basicamente reafirmava os direitos russos obtidos nas ultimas guerras contra os otomanos e também incluiu uma cláusula secreta que muito perturbou britânicos e franceses:


a Rússia manteria o Império Otomano a salvo contra qualquer nova ameaça de rebelião e, em troca, eles fechariam os estreitos aos navios de guerra estrangeiros sempre que a Rússia o solicitasse. Tal cláusula preocupou ambos países europeus, ao dar a Rússia controle total sobre o Mar Negro (que seus estrategistas apontavam como o ponto fraco do País em caso de uma invasão europeia).

Antes de continuar, é importante frisar que, durante o Séc. XIX, a esmagadora maioria dos Estados europeus viam a Rússia com desprezo e racismo (seja pela ocupação que o Urso russo mantinha na Polônia, vista como mártir pela Europa Ocidental; seja por considerar os russos um povo bárbaro, agressivo e estupido, indigno de se chamar europeu). Para se ter uma noção, um século depois, quando surgiu a URSS, a maior parte do medo e preocupação dos europeus vinha mais da "russofobia" comum nas sociedades europeias do que do socialismo em si.


Um grande fomentador desse preconceito foi a desinformação (fake news) chamada de “Testamento de Pedro, o Grande”, constantemente mencionado por russofóbicos britânicos e franceses para falar da ameaça russa, que dizia que o Czar Pedro III planejava que seus sucessores deveriam conquistar: 1) os mares Báltico e Negro; 2) se unir aos austríacos para expulsar os otomanos da Europa; 3) conquistar o levante (que corresponde atualmente a Israel, Palestina, Líbano e Síria); 4) controlar as Índias e seu comercio e, por fim, 5) semear o caos e a desordem nos Países europeus, de modo a se tornar senhora desse continente.

Dizer que esse documento é ridículo e absurdo é o mesmo que dizer que a água molha. Pedro, o Grande fez justamente reformas para aproximar a Rússia da Europa Ocidental econômica e culturalmente, além de criar um imposto sobre as barbas de modo a desestimular os russos a usá-las.


Como a mentira tem perna curta, foi descoberto que esse “testamento” foi criado no séc. XVIII por poloneses e húngaros ligados à França e aos otomanos, tendo várias versões até parar no ministério das Relações Exteriores francês em 1760. Por razões de política externa (já que suecos, poloneses e otomanos, aliados da França, foram enfraquecidos ou suprimidos pela Rússia), a França acreditou em sua autenticidade.


Napoleão o publicou oficialmente em 1812, durante sua invasão à Rússia para ganhar apoio popular; sendo também republicado nas vésperas de todas as guerras do ocidente contra a Rússia, e posteriormente foi utilizado na Guerra Fria para explicar as intenções “malignas” da URSS. Sua última menção feita na invasão soviética ao Afeganistão em 1979, tendo sido citado nas revistas Christian Science Monitor, Time e na Câmera dos Comuns britânica, de modo a “explicar” tal invasão.

Esse testamento, notoriamente falso, serviu com o mesmo propósito dos “Protocolos dos Sábios de Sião” que ajudou a propagar o antissemitismo pelo mundo.


Voltando ao Tratado de Unkiar-Skelessi, praticamente todas as ações russas no continente eram vistas preconceituosamente como partes de um plano de expansão imperial. Ao mesmo tempo, os britânicos estavam cada vez mais interessados no potencial do Império Otomano tanto como mercado consumidor de seus produtos industrializados quanto fornecedor de diversas matérias primas, existindo um grande lobby de comerciantes que passou a incentivar o governo a sempre intervir no Império Otomano com esses propósitos.


Junto a esses interesses econômicos reais, também existia o lunatismo britânico de que os russos representavam uma ameaça real ao controle britânico da Índia. Embora o governo e os principais estadistas julgassem tal “ameaça” como reles besteira (o Times inclusive zombou dizendo que após a conquista russa da Europa e da Ìndia, eles poderiam avanças sobre o Cabo da Boa Esperança, o Polo Sul e a Lua), a imprensa britânica russofóbica tinha outras metas, sendo estimuladas tanto pelo livreto de 1828 On the Designs Of Russia, ao qual alegava que caso a Rússia conquistasse completamente o Império Otomano, o próximo passo seria a Índia. Depois foram somados os livretos On the Praticality of an Invasion of British India e Journey to the North of India, que alegavam que os russos podiam reunir um exército no noroeste do subcontinente e invadi-lo com apoio persa e afegão.


Na época, assessores militares russos estavam na Pérsia de modo a manter o País como um escudo contra a influência dos otomanos e, em 1837, quando os persas conquistaram a cidade afegã de Herat, muitos britânicos não tinham dúvidas de que era o começo da invasão russa rumo a Índia, sendo inclusive referendado pelo ex-embaixador britânico na Pérsia: “Herat nas mãos da Pérsia nunca poderá ser considerada de outra forma que não um ponto avançado para os russos rumo à Índia”.


O jornal Herald inclusive declarou “durante anos nos esforçamos para fazer com que compreendessem que os desígnios ambiciosos da Rússia iam além da Turquia, Circássia e Pérsia, chegando às nossas possessões no leste da Índia, que a Rússia não perdeu de vista desde que Catarina ameaçou marchar com seus exércitos naquela direção e unir os príncipes indianos nativos ao redor do estandarte do grão-mogol”.
O jornal Standard também declarou: “é de pouca utilidade vigiar a Rússia se nossos cuidado e esforço se encerram nesse exercício de vigilância. Temos vigiado a Rússia a oito anos, e nesse tempo ela adiantou suas conquistas e seus postos militares 2 mil milhas na direção da Índia”.

Como pode ser visto, quando o medo está presente, a razão se encolhe.


Deixando os britânicos um pouco de lado, grande parte da russofobia presente na França derivava tanto de questões religiosas (eternos debates entre católicos e ortodoxos sobre qual grupo deveria ter prioridade nas orações e oferendas nas Igrejas da Terra Santa) quanto da questão polonesa, que se rebelou contra o controle russo em 1831, tendo sido reprimida e vários sobreviventes do exército polonês foram parar na França, e desde então faziam lobby "antirusso" no País.

Vale mencionar que, durante a repressão russa na Polônia, os jornais britânicos novamente voltaram com suas bravatas, com o The Times declarando: “quanto tempo será permitido à Rússia mover guerra impunemente à antiga e nobre nação dos poloneses aliados da França, amigos da Inglaterra, os naturais e há séculos, os desafiados e vitoriosos protetores da Europa civilizada contra os bárbaros turcos e moscovitas?”.
O jornal Northern Liberator chegou a demência de declarar: “a não ser que a nação inglesa se levante veremos o execrável espetáculo de uma frota russa armada até os dentes e abarrotada de soldados ousando navegar pelo Canal Inglês, e provavelmente ancorando em Spithead ou Plymouth Sound! ”.

O catolicismo era o ponto de união comum entre franceses e poloneses, e com repressão à Polônia, foi fácil para muitos católicos franceses pintarem Nicolau I como anticristo.


O maior "russofóbico" francês era o jornalista católico radical Charles Montelembert, que fez a tradução do Livre des pélerin polonais (Livro dos peregrinos poloneses) de sua língua materna para o francês. Panfletos pediam uma “guerra santa” para defender os supostos cinco milhões de católicos poloneses obrigados a se converterem ao ortodoxismo pela Igreja Russa.


A história mais comum contada sobre a repressão religiosa russa eram as “Freiras martirizadas” de Minsk que, ao se recusarem a se submeterem à Igreja Russa quando a Igreja Católica Grega foi suprimida no sínodo de Polotsk, como punição por terem apoiado o levante polonês, foram presas com ferros nas mãos e nos pés e levadas para a cidade de Vitebski, onde cinquenta delas foram aprisionadas e obrigadas a fazer trabalho manual pesado com correntes de ferro e sofriam torturas e espancamentos pelos guardas, sendo esta história contada pela primeira vez no jornal francês Le Correspondent em 1846, e serviu como alerta para os perigos trazidos pelo Czar que planejava expandir a ortodoxia para o Ocidente e estava convertendo católicos pela força das armas.


Outra importante figura que ajudou a espalhar a russofobia pela França foi o marquês de Custine, católico praticante cujo livro La Russie en 1839, que possuía contatos com a aristocracia russa e inclusive uma audiência com o Czar, ajudou seu livro a ganhar fama no Ocidente principalmente suas menções sobre o despotismo de Nicolau I; o servilismo dos aristocratas russos; seus supostos modos europeus presunçosos, que em sua opinião não passava de cortina de fumaça para esconder sua “barbárie asiática”; a falta de liberdade e dignidade pessoais; o desprezo pela verdade que pareciam dominar a sociedade. Um dos trechos mais repetidos do livro foi:

“uma ambição incomum e imensa, uma daquelas ambições que só poderia brotar no seio dos oprimidos, e poderia se alimentar apenas das infelicidades de toda uma nação, fermenta no coração do povo russo. Essa nação, essencialmente agressiva, gananciosa sob a influência da privação, expia antecipadamente, por uma submissão vil, o desígnio de exercer uma tirania sobre outras nações: a glória, as riquezas, que são objeto de suas esperanças, a consolam pela desgraça à qual se submete. Para se purificar do ofensivo e ímpio sacrifício de toda a liberdade pública e pessoal, o escravo, jogado de joelhos, sonha com o domínio do mundo”.

O livro se encerrava com a seguinte citação: “para ter simpatia pela liberdade desfrutada pelos outros países europeus, a pessoa precisa ter estado naquela solidão sem descanso, naquela prisão sem alívio que se chama Rússia. Se um dia seus filhos ficarem descontentes com a França, experimente minha receita: diga a eles para irem à Rússia; é uma viagem útil a todo estrangeiro; quem tiver examinado bem aquele país ficará contente de viver em qualquer outro lugar”. (E você pensando que o “vai pra Cuba!” é uma invenção brasileira...).


La Russie em 1839 teve seis edições e foi traduzido para o alemão, o dinamarquês e o inglês, e transformado em folheto em vários outros idiomas, vendendo centenas de milhares de exemplares. O segredo do sucesso foi a sagacidade do marques de Custine em brincar e articular os medos e preconceitos da Europa contra a Rússia.


Qual foi o desfecho de toda essa história?


Em 4 de outubro de 1855, o Sultão influenciado pela mídia britânica e francesa, que o enaltecia, confundiu esse apoio da imprensa ao Império Otomano, com o apoio dos governos britânicos e franceses. Assim, o Império Otomano voltou a declarar guerra à Rússia, mesmo sem ter a menor condição de fazê-lo, com o "achismo" de que o ocidente iria ajudar.


Como esperado, terminou em desastre, cujo cúmulo foi a frota russa bombardear a frota otomana ancorada na cidade de Sinope, no Mar Negro, que terminou com a total destruição de boa parte da frota otomana, além da morte de 2.700 marinheiros otomanos e mais 1500 civis que morreram por dano colateral, bem como boa parte da cidade terminou em ruínas.


Quando as notícias de Sinope chegaram a Londres, no dia 11 de dezembro, como era de se esperar, a imprensa denunciou o “ultraje violento” e o “massacre” e exagerou o número de mortos, dizendo que 4000 civis morreram no bombardeio. O fato de ambos Estados estarem em guerra era irrelevante para os jornais e os jornalistas, com o Times declarando: “Sinope acaba com as esperanças de paz que fomos levados a acalentar (...). Achamos que era nosso dever apoiar e defender a causa da paz enquanto a paz fosse compatível com a honra e a dignidade de nosso país (...) mas o imperador da Rússia desafiou as potências marítimas (...) e agora a guerra começou verdadeiramente.”


O Chronicle não foi diferente: “Devemos desembainhar a espada, se desembainhar devemos, não apenas preservar a independência de um aliado, mas para humilhar as ambições e obstar as maquinações de um déspota cujas pretensões intoleráveis o tornaram inimigo de todas as nações civilizadas”.

Em Londres, Manchester, Rochdale, Sheffield, Newcastle e outras cidades promoveram manifestações em defesa dos otomanos. Vários jornais publicaram petições a rainha Vitória exigindo uma postura ativa contra a Rússia.


Palmerston, ex-integrante do gabinete britânico e o maior dos britânicos russofobicos estava ganhando apoio popular em seus pedidos publicitários por uma política externa mais agressiva, declarando que o ataque a Sinope foi um ataque indireto ao ocidente (já que as frotas britânica e francesa estavam no Bósforo onde poderiam ter protegido a frota otomana. Palmerston, que, durante muitas décadas, teve o nome proferido como insulto na Rússia, era apoiado pelo líder da Câmara dos Comuns, Russel, e pelo secretário do Exterior, Clarendon.


Palmerston foi, de certa forma, o primeiro político moderno ao perceber a necessidade de manter boas relações com a imprensa e apelar ao público com simplicidade para criar um eleitorado popular que sempre o apoiará.

Seu manifesto foi encarnar a imaginação popular britânica de seus ideais e valores, que adorava seu compromisso verbal de intervencionismo no exterior, que reforça a visão deles de que a Grã-Bretanha era o maior país do mundo e que era seu dever exportar seu modo de vida e valores para todos os menos felizes que viviam fora de seu território, bem como a galante virtude britânica de defender os desamparados e fracos contra tiranos e intimidadores (típica hipocrisia ocidental). Com toda essa auto bajulação, estava claro que a Royal Navy iria disparar seus canhões contra os russos.


Por parte dos franceses, a imprensa provincial católica também estava atiçando Napoleão III a ir para a guerra. O Impartial inclusive comparou Nicolau I a Átila, publicando: “Fingir o contrário é inverter todas as noções de ordem e justiça. Falsidade em política e falsidade em religião – isso é o que a Rússia representa. Seu barbarismo, que tenta imitar nossa civilização, inspira nossa desconfiança, seu despotismo nos enche de horror (...). Seu despotismo é talvez adequado a uma população que se arrasta nos limites do animalesco como um rebanho de animais fanáticos; mas não é adequado a um povo civilizado (...) As políticas de Nicolau produziram uma tempestade de indignação em todos os Estados civilizados da Europa; são as políticas do estupro e da pilhagem. Eles são banditismo em enorme escala”.


O editor do Union franc-comtoise também escreveu: “se permitimos que a Rússia tome a Turquia [sic], logo veremos a heresia grega sendo imposta a todos nós por armas cossacas; a Europa perderá não apenas sua liberdade, mas sua religião (...). Todos seremos obrigados a ver nossos filhos serem educados no cisma grego, e a religião católica perecerá nos desertos gelados da Sibéria para onde serão mandados aqueles que ergueram a voz para defende-la”. Qualquer semelhança com os europeus de extrema-direita que denunciam e combatem a “islamização” do continente é mera coincidência...


Em suma, a imprensa provincial católica via na guerra contra a Rússia uma forma de reforçar a disciplina religiosa dos franceses, de modo a reagir à constante sociedade laica e devolver a Igreja ao centro da vida nacional. O mais curioso é que, ao contrário dos britânicos, os franceses eram indiferentes ao apelo de sua imprensa para uma guerra, já que muitos desprezavam a ideia de se aliar aos seus eternos inimigos britânicos, sendo a França arrastada para uma guerra por nada mais do que os interesses imperiais britânicos e que iria pagar o preço por isso (que de fato pagou, mais soldados franceses morreram na Crimeia do que Britânicos). Os empresários franceses eram completamente contrários a guerra, já que temiam novos impostos para financiá-la e prejuízos na economia, mas como em todas as situações de comoção nacional, a voz da razão foi sufocada, já que Napoleão III via na guerra uma oportunidade de unir os franceses que foram divididos nos protestos de 1848, bem como de tentar emular os feitos de seu famoso tio.


Logo, a guerra (a mais sangrenta do século XIX, no qual pereceram mais de 700.000) foi declarada por britânicos e franceses contra russos. Por mais que a esmagadora maioria da historiografia veja esta guerra como uma vitória de franceses e britânicos contra russos, eu particularmente a considero uma vitória pírrica do ocidente, já que, por mais que ao final conseguiram tomar Sebastopol, seu grande objetivo, foi com uma grande quantidade de baixas, sem falar que, nos planos de Palmerston, a Crimeia seria só o começo (planejava depois “libertar a Polônia”, destruir as bases russas no Mar Báltico de modo a ameaçar São Petersburgo e incentivar e armar as tribos islâmicas na Ásia Central a lutar contra os russos) mas, devido a todas as baixas, foram abortados.


Essa foi a primeira guerra da história cuja principal motivação foi a pressão midiática, para todos os que duvidavam de seu poder. Aos jornalistas ou editores que possam ler isso algum dia, peço que pensem bem antes de escrever qualquer coisa. Nos dias de hoje, com a ascensão total da internet, é quase impossível desdizer ou desmentir qualquer coisa, pelo menos antes de fazer o estrago esperado.


Fonte:

FIGES, Orlando. Crimeia a história da guerra que resenhou o mapa da Europa no século XIX. Rio de Janeiro: Record, 2019.





Por DEMETRIUS SILVA MATOS

Advogado OAB/MA

Pós Graduado em Ciências Políticas pela Uninter

Autor do livro: "Direito na Ditadura - o uso das leis e do direito durante a ditadura militar"


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